Diferentemente do que muitos pensam o socialismo não possui apenas aquela conhecida faceta “revolucionária” e sangrenta, responsável por mais de 100 milhões de mortes brutais (e diretas) ao longo do século XX.
Muito mais perniciosa foi sua proposta “gradualista”, também colocada em ação, intensa e diligentemente, desde o final do século XIX.
Nesse sentido, em 1884 foi fundada, no Reino Unido, a sociedade Fabiana, atualmente o mais antigo think tank britânico (tendo sido responsável inclusive pela criação do Partido Trabalhista inglês em 1900).
Por 136 anos a sociedade Fabiana tem introduzido na cultura das democracias ocidentais ideias socialistas, de tal forma que muitos hoje são socialistas sem o saberem.
Além disso, como uma das maneiras mais eficientes de se introjetar ideias na sociedade é mediante a educação, a sociedade Fabiana também fundou, em 1895, a célebre London School of Economics (LSE), cujo propósito principal é, como lemos em seu site, “o melhoramento da sociedade”.
Na LSE estão todos os arquivos da sociedade Fabiana. Além disso, a sociedade Fabiana teve, desde o princípio, o apoio de intelectuais altamente influentes e ilustres, como George Bernard Shaw (dramaturgo), H.G. Wells (escritor), Bertrand Russell (filósofo), Virginia Woolf (escritora), Eleanor Marx (filha de Karl Marx), Cecil Rhodes (conhecido magnata e colonizador, foi um defensor da supremacia branca e responsável por um dos maiores genocídios de negros africanos – estima-se que 60 milhões de mortes podem ser atribuídas a ele), Graham Walls (psicólogo), Sydney Olivier (barão e político) e John Maynard Keynes (economista).
No núcleo inicial da sociedade Fabiana estava também o casal de barões Sidney e Beatrice Webb.
Talvez não tão conhecida atualmente estava também a escritora ocultistaAnnie Wood Besant, a qual contribuiu para o assentamento dos pilares da sociedade Fabiana ainda no final de século XIX.
A ideia do fabianismo era, a exemplo do general romano Quintus Fabius Maximus Verrucosus, o qual teve destaque na segunda guerra púnica, fazer definhar o inimigo lentamente (Quintus Fabius teria usado como estratégia de guerra atacar aos poucos os suprimentos das tropas inimigas, que eram mais numerosas, levando-as a um definhamento e enfraquecimento - e por essa razão ele também ficou conhecido como “cunctator”, o “protelador”).
Por essa razão um dos símbolos do fabianismo é a tartaruga (com os dizeres: "When I strike, I strike hard" – “quando bato, bato com força”).
Com essa estratégia em mente o fabianismo, aos poucos, faria colapsar o sistema vigente (a cultura ocidental), o qual estaria baseado seja em ideias liberais (na individualidade e nas liberdades individuais) seja em valores judaico cristãos.
Nesse sentido, liberalismo e cristianismo, desde o início, constituíram o alvo principal dos ataques da sociedade Fabiana, os quais ela pretende fazer colapsar lentamente.
Portanto, desde sua gênese o fabianismo pretendia “reconstruir” a sociedade a partir de certos ideais. Assim, ela é, a exemplo do socialismo revolucionário, planificadora em seu propósito fundamental.
Tal como outros ideais fracassados que, ao longo da história, acabaram com a liberdade individual e com a individualidade mesma, o fabianismo pretendeu (e ainda pretende) remodelar a sociedade de acordo com seu ideal.
Ao invés de partir das liberdades individuais para, então, estabelecer instituições em acordo com a liberdade, o fabianismo tinha o mesmo propósito do socialismo em sua faceta revolucionária: fazer colapsar os pilares da civilização ocidental para tornar real uma visão particular de “mundo ideal”, o qual é, em verdade, uma distopia.
Elementos dessa distopia nós os podemos encontrar na obra de um proeminente socialista Fabiano: H.G. Wells. Na obra “A Conspiração Aberta: Projetos para uma revolução mundial” (1928) ele defende a criação de um governo mundial (dir-se-ia, hoje, de uma “nova ordem mundial”) e a formação de uma “elite” de intelectuais e cientistas que seriam responsáveis por engendrar mudanças sociais.
A ideia seria estabelecer um mundo tecnocrático e uma economia planificada. Em 1940 ele publica “A nova ordem mundial”, na qual ele insiste na ideia já exposta em 1928, a saber, no desenvolvimento de “um processo de purificação mental” visando dissolver ideais nacionalistas para que as pessoas se tornem “cidadãs do mundo”.
Segundo ele, tal propósito levaria muito tempo, mas ainda assim ele deveria ser levado a efeito pacientemente (eis a razão de eles usarem a tartaruga como símbolo). Mas, ainda que pacientes, ao baterem bateriam com violência.
Aliás, é digno de observação que George Orwell passou pela sociedade Fabiana. “Curiosamente” ele escreveu, posteriormente, seu clássico “1984”, no qual ele descreve um mundo em que o governo tem controle quase total de sua população, a qual padece sem liberdade inclusive de pensamento. Ele parece estar descrevendo a distopia proposta pela sociedade Fabiana.
O mesmo ocorre com Aldous Huxley, o qual também escreveu uma das mais importantes distopias do século XX, “Admirável Mundo Novo”. Ambas as obras representam a realização do sonho socialista (e de nosso pesadelo).
Em certo sentido, o fabianismo não diferia significativamente do socialismo em sua versão revolucionária ou, mesmo, do Nazismo, especialmente na medida em que se tratava de um movimento anticristão fundado em uma visão planificadora com o propósito de “criar” um “mundo melhor” (“melhor” de acordo com sua visão, obviamente).
Não obstante, em comum essas três visões têm o fato se tornarem, ao final, distopias, versões tenebrosas da realidade.
Assim, o fabianismo sempre foi planificador e estatista (defendendo, pois, uma intensa intervenção estatal – invariavelmente violando liberdades individuais). Portanto, ele é oposto à liberdade individual (e a uma liberdade econômica) e à propriedade privada considerada um “direito fundamental” inatacável.
A ideia de “reforma social” é inerente ao fabianismo. Em suma, eles pretendem “reconstruir” lentamente a sociedade mundial a partir de sua distorcida concepção moral.
Muitas das pautas da agenda socialista atual já estavam, aliás, presentes nas origens da sociedade Fabiana. Além da defesa da intervenção estatal, já estavam presentes, por exemplo, a defesa dos ‘direitos gays’, dos ‘direitos animais’, do ‘vegetarianismo’, etc. Essas pautas eram ardentemente defendidas pelo poeta inglês Edward Carpenter, um notório integrante da sociedade Fabiana.
Passaram-se décadas até que essas pautas se tornassem uma agenda concreta e, mesmo, vigente (como ocorre hoje). Isso apenas nos mostra sua paciência (e eficiência).
Mas agora quero tecer alguns comentários sobre outra corrente que também ganhou força no início do século XX, e sobre a qual pouco se comenta.
Ela está mais próxima do socialismo do que se poderia inicialmente suspeitar.
Falo, aqui, do satanismo e de um de seus mais importantes expoentes nos tempos modernos: Aleister Crowley.
Embora ele conste na lista dos 100 mais importantes (e influentes) britânicos da história, sua presença na sociedade e na cultura não é amplamente divulgada ou, mesmo, conhecida.
Suas ideias, por outro lado, estão muito presentes em nossa cultura e sociedade. Não podemos subestimar sua influência. Dito de outra forma, poder-se-ia dizer que muitos são satanistas sem o saberem.
Com efeito, acima eu havia mencionado o nome de Annie Wood Besant, uma das fundadoras da sociedade Fabiana. Pois bem. Segundo lemos na volumosa (mais de mil páginas) biografia de Crowley, “Perdurabo: The Life of Aleister Crowley” (2002), escrita por Richard Kaczynski, ela e Crowley estiveram muito próximos em práticas satanistas.
Apesar de alguns atritos, ambos tinham em comum o fato de serem adeptos de práticas satânicas.
Além dela há também a sacerdotisa da ‘Ordem Hermética da Aurora Dourada’ (Golden Dawn), a ativista feminista Beatrice Farr, que por alguns anos foi amante de George Bernard Shaw, um dos fundadores da sociedade Fabiana. Farr foi amiga de Crowley, sendo que ambos frequentaram a Golden Dawn.
Mas o ponto é que, quando investigamos os precursores tanto do socialismo quanto do satanismo modernos encontramos muitas aproximações entre eles.
Embora Crowley não possa ser considerado exatamente um socialista (ele era mais apropriadamente um anarquista), no desdobramento de ambas as correntes vemos que elas se encontram.
E, ao se encontrarem, elas servem de base para um novo ideal de sociedade, uma sociedade controlada por “ungidos” e totalmente desligada dos valores judaicos cristãos que assoalharam o caminho para a civilização ocidental: uma sociedade que poderíamos chamar de “nova ordem mundial”.
Além disso, tal como os precursores da “nova ordem mundial”, Crowley era conhecido por suas posturas anticristãs e antissemitas, algo comum entre os socialistas.
Não apenas isso, é digno de nota que Crowley também teve uma influência significativa sobre L. Ron Hubbard (fundador da Cientologia) e, obviamente, sobre Anton LaVey (fundador da Igreja de Satã, nos USA).
Sua influência também foi decisiva no desenvolvimento do ‘Movimento Nova Era’ (New Age) – especialmente nos anos 70 e 80 do século XX –, da religião neopagã ‘Wicca’, do ‘Movimento Novo Pensamento’, da ‘Yoga’ (sobre a qual Crowley escreveu alguns textos influentes), bem como de movimentos culturais que moldaram a cultura desde a metade do século XX, como a cultura Beatnik, especialmente mediante sua influência sobre William Burroughs (um dos expoentes da cultura Beatnik – promotora do “amor livre”, da promiscuidade exacerbada, do uso de drogas, do antimaterialismo contra a cultura capitalista, etc).
Na verdade, a ideia hoje em voga, segundo a qual ‘tudo é amor’, remete a Crowley e ao seu “Livro da Lei” (1904): “Amor é a lei, amor sob a vontade”.
Não apenas isso, no mesmo livro encontramos a seguinte máxima: “Faze o que tu queres pois é tudo da Lei” (no Brasil essa ideia aparece na defesa de uma “sociedade alternativa”, presente nas músicas de Raul Seixas e Paulo Coelho).
Se compararmos essas ideias com o que lemos em sua biografia, perceberemos que Crowley viveu rigorosamente de acordo com seus princípios hediondos: praticou rituais satânicos, bestialidades, viveu promiscuamente, usou drogas exacerbadamente ... sendo que ele mesmo se intitulava a “besta 666”.
Por seus feitos e ideias foi considerado o homem mais perverso do mundo. E sua influência se espraiou, seja na cultura popular (Beatles, J.K. Rowling, David Bowie, Led Zeppelin, para apenas nomear alguns), seja na academia, como podemos ver na obra de William Ramsey, “Children of the Beast” (2016). Por exemplo, ele influenciou fortemente Alfred Kinsey, o qual (subsidiado pela Fundação Rockefeller) tinha propósitos muito similares aos de Crowley, como promover práticas homossexuais entre heterossexuais, estimular a sexualidade em crianças e encorajar a pedofilia.
Autor do ‘Relatório Kimsey’, ele teve uma influência decisiva sobre a “revolução sexual” desde a metade do século XX.
Segundo Kimsey, “tudo é amor”, ou seja, todos os comportamentos sexuais são “normais” (mesmo pedofilia e zoofilia).
Na verdade, segundo ele o comportamento sexual “anormal” seria o heterossexual, o qual resultaria, segundo ele, de repressões culturais.
A raiz dessa repressão estaria, não poderia ser diferente, na cultura judaico-cristã. Seu propósito, almejado com subsídios da Fundação Rockfeller, era, então, inverter os valores morais tradicionais. Ou seja, destruir a moral judaico cristã.
Mas o que quero extrair dessas breves considerações é o seguinte: o socialismo e o satanismo têm, em comum, o objetivo de causar o colapso da civilização ocidental e de seus valores (fundados na tradição judaico cristã). Eles pretendem erigir sobre as ruínas da civilização ocidental uma “nova ordem mundial”.
E quanto a esse objetivo tais tradições estão unidas, e isso pelo menos desde o início do século XX.
Atualmente elas levam a efeito seus propósitos mediante o fomento financeiro de importantes instituições, como a já citada Fundação Rockfeller, bem como com subsídios milionários da Fundação Ford, da Open Society, da Fundação Bill e Melinda Gates, para citar apenas algumas das mais conhecidas.
Todas estão alinhadas no fomento à total “licenciosidade sexual”, à eliminação da família “tradicional” (homem, mulher e filhos oriundos dessa relação em uma união que envolve indissolubilidade e exclusividade), à prática generalizada do aborto, à permissibilidade quanto ao uso “recreativo” de drogas, à vitimização do criminoso, à eliminação da alta cultura (da beleza), etc.
Em suma, trata-se do fomento à destruição de todos os valores que se mostraram eficientes mediante a experiência, isto é, aos valores “conservadores”. Nesse ponto socialismo e satanismo estão unidos: ambos visam a destruição dos pilares da civilização ocidental. E a história recente nos mostra que eles estão, desgraçadamente, logrando sucesso nesse projeto diabólico. Já estamos, em parte, vivendo em uma “nova ordem mundial”. Já estamos vivendo, sobretudo em tempos de pandemia, a distopia sonhada por socialistas e satanistas. A questão que resta é: ainda haverá tempo de sairmos dela e resgatarmos nossa humanidade e liberdade?
Carlos Adriano Ferraz. Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). Atualmente é professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia, no qual orienta dissertações e teses com foco em ética, filosofia política e filosofia do direito. Também é membro do movimento Docentes pela Liberdade (DPL), sendo atualmente Diretor do DPL/RS.
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