A participação da
Santa Missa, aos domingos, é um compromisso de particular importância em
nossa experiência de fé. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que a
celebração da Eucaristia dominical, do Dia do Senhor, está no coração
da vida da Igreja. “O domingo, em que se celebra o mistério pascal, por
tradição apostólica, deve guardar-se em toda a Igreja como o primordial
dia festivo de preceito”1.
No entanto, antes de ser uma obrigação para nós, católicos, a
participação da Santa Missa aos domingos é uma exigência que está
inscrita na essência da vida cristã. Por isso, na Igreja nascente, não
havia o preceito dominical, já que os fiéis tinham a assembleia
dominical como o ponto mais alto e importante da vida espiritual.
A Santa Missa nos primórdios da Igreja Católica
A celebração da Santa Missa aos domingo remonta aos princípios da era
apostólica da Igreja (cf. At 2,42-46; 1 Cor 11,17). Nesse sentido, a
Carta aos Hebreus nos ajuda a compreender a importância da Eucaristia
dominical já naquele tempo: “Sem abandonarmos a nossa assembleia, como é
costume de alguns, mas nos exortando mutuamente” (Hb 10,25).
A Tradição da Igreja nos ajuda a guardar a memória de uma
exortação que permanece sempre atual: “Vir cedo à igreja, aproximar-se
do Senhor e confessar os próprios pecados, arrepender-se deles na oração
[…], assistir à santa e divina liturgia, acabar a sua oração e não sair
antes da despedida […]. Muitas vezes, o temos dito: este dia é vos dado
para a oração e o descanso. É o dia que o Senhor fez: nele exultemos e
cantemos de alegria”2.
São Justino, mártir do século II, na sua primeira Apologia, dirigida
ao imperador Antonino e ao Senado, descreveu com ufania o costume dos
primeiros cristãos de reunir-se na assembleia dominical, que congregava,
no mesmo lugar, os cristãos das cidades e das aldeias. “Quando, durante
a perseguição de Diocleciano, viram as suas assembleias interditas com a
máxima severidade, foram muitos os corajosos que desafiaram o édito
imperial, preferindo a morte a faltar à Eucaristia dominical”3.
Isso aconteceu com os mártires de Abitinas, na África
proconsular, que assim responderam aos seus acusadores: “Foi sem
qualquer temor que celebramos a ceia do Senhor, porque não se pode
deixá-la, é a nossa lei”; “não podemos viver sem a ceia do Senhor”. Com
coragem extraordinária, uma das mártires confessou: “Sim, fui à
assembleia e celebrei a ceia do Senhor com os meus irmãos, porque sou
cristã”4.
A assembleia reunida
Segundo São João Crisóstomo, há algo a mais que a assembleia reunida
nos proporciona: “Podes também rezar em tua casa; mas não podes rezar aí
como na igreja, onde muitos se reúnem, onde o grito é lançado a Deus de
um só coração. […] Há lá qualquer coisa mais: a união dos espíritos, a
harmonia das almas, o laço da caridade, as orações dos sacerdotes”5.
Essa obrigação de consciência, que tem sua razão der ser na
necessidade interior que os cristãos dos primeiros séculos sentiam tão
intensamente, a Igreja Católica nunca deixou de afirmar, embora, no
início, não julgou ser necessário prescrevê-la.
Mas, com o tempo, devido à tibieza ou à negligência de alguns, a
Igreja teve de explicitar aos fiéis o dever da participação na Missa aos
domingos. Na maior parte das vezes, fez isso sob a forma de exortação,
mas, às vezes, também recorreu a disposições canônicas concretas.
A obrigação da participação da Santa Missa aos domingos
O primeiro e o mais importante mandamento da Igreja determina que
somos obrigados a participar da Santa Missa aos domingos e nas
solenidades de preceito: “No domingo e nos outros dias festivos de
preceito, os fiéis têm obrigação de participar na Missa”6. Cumprimos
esse preceito se participarmos da Santa Missa celebrada em rito
católico, no próprio dia festivo ou na tarde do dia anterior.
A Santa Missa, aos domingos, fundamenta e confirma toda a prática
cristã. Por isso, temos a obrigação de participar da Santa Missa nos
dias de preceito, especialmente no domingo, a menos que estejamos
justificados por algum motivo sério como, por exemplo, doença, obrigação
de cuidar de crianças de peito ou sejamos dispensados pelo nosso pároco
ou responsável. Se deliberadamente faltamos a essa obrigação, cometemos
um pecado grave.
“A participação na celebração comum da Eucaristia dominical é um
testemunho de pertença e fidelidade a Cristo e à sua Igreja”7. Ao
participarmos da Missa dominical, atestamos a nossa comunhão na fé e na
caridade; damos testemunho da santidade de Deus e da nossa esperança na
salvação; e reconfortamo-nos mutuamente, sob a ação do Espírito Santo.
A paróquia é o lugar onde nós, que somos católicos, podemos nos
reunir para a Santa Missa, principalmente para a celebração dominical da
Eucaristia. A paróquia nos inicia na expressão ordinária da vida
litúrgica e nos reúne nessa santa celebração. Além disso, a paróquia nos
ensina a doutrina salvífica de Cristo e pratica a caridade do Senhor em
obras boas e fraternas.
A Eucaristia dominical como exigência da vida cristã
Caso não seja possível a participação da Santa Missa aos domingos, o Código de Direito Canônico faz algumas recomendações:
“Se for impossível a participação, na Celebração Eucarística, por
falta de ministro sagrado ou por outra causa grave, recomenda-se muito
que os fiéis tomem parte na liturgia da Palavra, se a houver na igreja
paroquial ou noutro lugar sagrado, celebrada segundo as prescrições do
bispo diocesano, ou consagrem um tempo conveniente à oração pessoal ou
em família ou em grupos de famílias, conforme a oportunidade”8.
Verdadeiramente, grande é a riqueza espiritual e pastoral do
domingo, tal como a Sagrada Tradição nos confiou. Vista na totalidade
dos seus significados e implicações, o domingo constitui, de certo modo,
uma síntese da vida cristã e uma condição necessária para bem vivê-la.
Por isso, compreendemos por que razão a Igreja tem como
particularmente importante a observância do Dia do Senhor, tanto que a
tornou uma obrigação no âmbito da disciplina eclesiástica. No entanto,
essa observância, antes de ser um preceito, deve ser vista como uma
exigência inscrita profundamente em nossas almas. É de importância verdadeiramente capital que nos convençamos de
que não podemos viver a nossa fé, a plena participação da vida da
comunidade cristã, sem tomar parte regularmente na assembleia
eucarística dominical.
A plenitude da Missa aos domingos
Na Eucaristia, realiza-se a plenitude de culto que os homens devem a
Deus, incomparável com qualquer outra experiência religiosa. Uma expressão particularmente eficaz dessa plenitude verifica-se
precisamente quando, no domingo, toda a comunidade congrega-se, em
obediência à voz do Ressuscitado. Ele a convoca para lhe dar a luz da sua Palavra e o alimento do
seu Corpo, como fonte sacramental perene de redenção. A graça, que
dimana dessa fonte, renova a nossa vida, a nossa história. O Espírito Santo está presente, ininterruptamente, em cada dia da
Igreja, irrompendo, imprevisível e generoso, com a riqueza dos seus
dons. Entretanto, na assembleia dominical reunida para a celebração
semanal da Páscoa, a Igreja Católica coloca-se especialmente à escuta
d’Ele e com Ele tende para nosso Senhor Jesus Cristo, no desejo ardente
do Seu regresso glorioso: “O Espírito e a Esposa dizem: ‘Vem!’” (Ap 22,
17).
Referências:
1 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, § 2177.
2 Idem, § 2178.
3 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Dies Domini, 46.
4 Idem, ibidem.
5 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, § 2179.
6 Idem, § 2180.
7 Idem, § 2182.
8 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Código de Direito Canônico, cânon 1248, § 2.
Por Natalino Ueda – Via Canção Nova.
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