Homilia de Dom Wilson no início do ministério em Taubaté – 13/6/2015
Saudações:
Aos cardeais, bispos, padres, diáconos, consagrados e todo Povo de Deus.
Autoridades civis: executivo, legislativo, judiciário.
Autoridades militares.
Quero saudar a todos e agradecer pela presença de cada um. Sei que não vieram aqui simplesmente por minha causa, pois a grande maioria nem mesmo me conhecia pessoalmente. Vieram para acolher o novo bispo. Vieram porque, pela fé, reconhecem a função daquele que, como sucessor dos apóstolos, vem para servir a Igreja Diocesana presidindo-a e coordenando-a. Por essa atenção e deferência, agradeço-lhes.
O contexto litúrgico
Escolhi iniciar o ministério como bispo da diocese de Taubaté neste dia em que a Igreja celebra o Imaculado Coração de Maria porque fui ordenado bispo, em 2011, no dia do Sagrado Coração de Jesus (festa que ontem foi celebrada pela Igreja), assim, ao iniciar hoje, aqui, meu ministério eu o faço confiando-me ao amor misericordioso de Jesus, do qual seu coração é símbolo, e recorrendo à intercessão materna do Imaculado Coração de Maria. Se para nós o coração é símbolo do amor, na linguagem bíblica, o coração é considerado como a sede das decisões.
São Lourenço Justiniano, primeiro patriarca de Veneza, nascido no séc. XIV, em homilia sobre o evangelho que hoje ouvimos, dizia: “Feliz o coração da Virgem que, pela luz do Espírito Santo que nela habitava, sempre e em tudo obedecia a vontade de Deus. Ela não se deixava guiar pelo seu próprio sentimento ou inclinação, mas realizava o que Deus lhe inspirava, no coração, pela fé”.
Assim, aproveitando a festa de hoje, expresso minha intenção de, no exercício do meu ministério, não buscar minha própria vontade mas, acima de tudo, buscar e servir à vontade de Deus. Esse é o pedido que, confiantemente, apresento ao Sagrado Coração de Jesus, fonte de amor, e ao Imaculado coração de Maria, que incondicional e fielmente se dispôs a sempre servir a Deus. Confiando-me a ambos, em minha prece, recorro e uno esses dois Corações num só coração, ampliando assim o sentido do lema de meu episcopado: COR UNUM.
A exemplo de Maria Santíssima, cada um de nós, busquemos sempre e em tudo fazer a vontade de Deus. Assim, com Ela, poderemos repetir o salmo proclamado após a primeira leitura: “Exulta meu coração e se eleva minha fronte em Deus porque me alegro com sua salvação”.
Vinda do Bispo e a que se propõe
Quando um novo bispo chega a uma diocese, é normal que surjam muitas expectativas: como será ele? O que vai continuar e o que irá mudar? O que poderemos esperar? É normal que uns o acolham esperançosos e outros ajam com alguma reserva até conhecê-lo melhor.
Antes de ser designado para cá, em minha oração, pedia a Deus que me conduzisse para onde minha maneira de ser, melhor pudesse colaborar com a igreja local. Reconheço que sou muito exigente, imediatista, prático, sincero, direto… Quis a Providência Divina enviar-me primeiro a Minas Gerais, quem sabe para flexibilizar tudo isso, antes de designar-me a vocês.
O que posso dizer é que, em mim, vocês não encontrarão um bispo perfeito que responda, em tudo, às expectativas de cada um. Isso seria impossível! Vocês encontrarão em mim, uma pessoa que, como todas as outras, traz qualidades e limites; mas uma pessoa que, com toda disposição, quer ser instrumento a serviço de Deus e de seu Povo.
Vocês vão encontrar um bispo que busca superar o perfeccionismo, que se atém à observância de regras, para se entregar mais à misericórdia. Tendo experimentado a misericórdia e o amor de Deus, tão presentes em minha vida, quero me colocar a serviço para que outros também possam conhecer e experimentar essa misericórdia e esse amor. Assim, me apresento a vocês não perfeito, mas disposto ao serviço e à entrega de mim; sentindo-me amado e disposto a amar; não completo, mas a caminho, construindo-me dia-a-dia nessa disposição.
Quero dizer-lhes que, no exercício da função para a qual fui designado, não procuro vantagens ou compensações; não busco privilégios; também não venho com simples e humano intuito de agradar; o apóstolo São Paulo dizia que: se quisesse agradar às pessoas não seria servo de Jesus Cristo (Gl 1,10); venho para servir. Faço minhas as palavras do então Papa Bento XVI, no início de seu pontificado: “…a mim, simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes”. Quero pois, vindo para cá, abraçar a história tão bonita desta Igreja secular de Taubaté, que vem sendo construída a tantas mãos por inúmeros evangelizadores leigos, religiosos e ministros ordenados. Abraço toda essa história e me coloco como um servidor a mais nesta vinha do Senhor. Colho o que não plantei, recebo e coordenarei uma Igreja particular fruto do generoso trabalho de tantos irmãos, os quais recomendo a Deus e, agradecido, recebo os frutos de secular dedicação. Simbolicamente, pensando em todos os que construíram e constroem essa Igreja diocesana, agradeço a Dom Antonio Miranda e a Dom Carmo Rodhen, como representantes de todos esses irmãos que dedicam sua vida a Deus e à Igreja. Que Deus recompense a todos e me faça digno de continuar essa belíssima história.
Quero servir exercendo o ministério da coordenação, procurando concretizar o que for expressão da comunhão eclesial no âmbito universal, nacional e local. Não acredito que, por exigências ou decretos, se possa obter participação e dedicação à Igreja; por eles também não se obtém comunhão presbiteral ou eclesial, nem tampouco a adesão a planos e a projetos pastorais. Tudo isso brota naturalmente de pessoas que amam a Deus, que se empenham em viver a fé, que são generosas no serviço à Igreja. Para aqueles que vivem assim, exigências e decretos nem precisariam existir!
O essencial de nosso trabalho é conduzir as pessoas ao encontro com Cristo e à vida cristã; por isso, nossa primeira responsabilidade é o anúncio do Evangelho em vista do Reino de Deus. Celebrar e administrar pastoralmente são decorrências desse compromisso primeiro, fundamental e insubstituível. Empenhemo-nos em ser uma Igreja-servidora, que busque dedicar-se àqueles que vivem nas periferias sociais e existenciais. Vamos, missionariamente, àqueles que por nós ainda não são atingidos e ofereçamos o que é específico e próprio de nossa responsabilidade eclesial, pois se não evangelizarmos ninguém o fará por nós. Nesse sentido, intensifiquemos o anúncio do Evangelho, multiplicando ocasiões para reflexão e aprofundamento da Palavra de Deus, aperfeiçoando a catequese em todas as fases da vida, especialmente atentos às crianças e jovens, instruindo-os a fim de formarmos gerações de cristãos sempre mais consistentes na fé e na vivência cristã. Dediquemo-nos a todos, mas estejamos presentes, sobretudo, junto aos mais sofredores, aos pobres, aos doentes, aos enlutados, amparando-os fraternalmente e levando-lhes uma palavra de conforto e de esperança. Isso não é missão só de ministros ordenados, mas de todos os discípulos de Cristo. Vamos nos esmerar em celebrações bem preparadas e em ambientes e comunidades de fraterna acolhida. Que nossas igrejas estejam sempre abertas. Que nossos padres sejam facilmente encontrados e sejam disponíveis ao atendimento e a todo serviço que deles é esperado e que lhes é próprio. Nossa Diocese conta com a presença de várias congregações religiosas que aqui ganham concretude geográfica e eclesial. Aqui situadas, as congregações comunguem dos mesmos compromissos e caminhem em sintonia e efetiva unidade pastoral, sendo profundamente integradas e ornando esta Igreja com seus carismas específicos.
O que é importante
Considerando essa ampla missão da Igreja, que se concretiza por meio de tantas pessoas e diversificados ministérios, podemos dizer que mais importante que a vinda de um novo bispo será reafirmarmos nossa disposição pessoal de procurar viver unidos a Deus, de nos empenhar em fazer sua vontade, de nos colocar generosamente a serviço da Igreja e de todas as pessoas. Isso sim será relevante, isso sim fará a diferença e será determinante para o aperfeiçoamento de nossa vida e de nossa missão como Igreja! O que peço a todos é o que eu mesmo devo incumbir-me, primeiramente, de fazer. Rezem por mim a fim de que eu possa bem realizar essa missão e servir-lhes de ajuda nesse caminho que, juntos, ora iniciamos.
Que a celebração da festa de hoje renove nosso coração fazendo-o semelhante ao coração de Jesus e de Maria, sempre disposto a amar e a fazer a vontade do Pai. Assim Deus nos ajude.