domingo, 2 de janeiro de 2011

Planejamento

A imagem que muita gente tem de planejamento é de um sistema burocrático de planos, de muito papel, muitas reuniões e muitos relatórios que substituem o contato direto das coordenações com as pessoas de base. Veja o caso histórico do colapso dramático dos países do bloco soviético, onde o sistema de planejamento centralizado criou uma classe de burocratas distantes da realidade e resistentes à participação do povo nas decisões. A própria Igreja, hoje em dia, corre o mesmo perigo em muitas de suas instâncias.

A metodologia de planejamento que será apresentada, pelo contrário, pretende combater e evitar erros de todo sistema burocrático. Falamos de PROCESSO DE PLANEJAMENTO e não simplesmente em planejamento ou plano. Entendemos aqui, planejamento não como sistema burocrático de fazer pastoral, mas como processo de tomada de decisões em conjunto. Entendemos o processo de planejamento como instrumento pedagógico que garante que a evangelização seja resposta às reais aspirações e necessidades dos fiéis e à realidade social em que estão inseridos.

É a maneira de evitar uma pastoral de princípios doutrinários apenas, abstratos e fora da história e incapazes de transformá-la. Trata-se de um meio eficaz de evitar desperdício de recursos humanos e financeiros, e garantir uma ação refletida e executada inteligentemente. O próprio Jesus acenou para a importância de planejar nossa ação evangelizadora: “Quem de vós, querendo edificar uma torre, antes não se senta para calcular os gastos, que são necessários, a fim de ver se tem com que acabá-la? Para que, depois que tiver lançado os alicerces, e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a zombar dele, dizendo: Este homem principiou a edificar, mas não pode terminar”. Lc 14,28-30.

O que se pretende aqui é dar um basta à prática de uma “pastoral do chute” e do “tiro no escuro”, para canalizar a enorme força que o cristão tem na construção de um mundo novo; sonho do povo e que também é sonho de Deus. Neste trabalho de assessoria, consta-se a necessidade de apresentar caminhos para uma ação mais eficiente e eficaz. Trabalha-se muito... Há muita gente gastando generosamente suas vidas pelo Reino de Deus. Nem sempre, porém, sabemos canalizar todas estas forças de forma sistemática e multiplicadora. Daí vem o cansaço, o desânimo e o sentimento de não fazer nada ou de fazer muito pouco... O próprio documento de Puebla alerta: “Para realizar constantemente essas opções pastorais básicas de evangelização, o caminho prático é uma pastoral planejada”. Puebla 1306. Toda e qualquer ação nos leva a um compromisso; e todo compromisso não pode dispensar um “planejamento comunitário”. Podemos já estar habituados a planejar as nossas ações a cada ano. Sabemos planejar os nossos encontros, a nossas formações e algumas das nossas ações, porém o planejamento não é um ato isolado pelo qual se inicia um projeto, um plano, um calendário. Ele mistura reflexão, ação e vivência do que se planejou. Conseqüentemente, o planejamento deve ter sempre presente a revisão. Das etapas do planejamento (reflexão, montagem do plano, ação e revisão), a revisão é uma das etapas mais importantes.

AVALIAÇÃO

A avaliação é indispensável para qualquer processo que deva ser melhorado. Mas é preciso que se faça alguma coisa a partir da avaliação. Ela não é um ponto final de um ano de trabalho, de uma programação. Ela é plataforma de lançamento para um trabalho melhor. 
O grupo precisa conhecer os resultados da avaliação que faz, e decidir o que precisa mudar a partir do que foi constatado. Avaliar é verificar se os objetivos foram alcançados.
Quem avalia? Num processo participativo, é interessante ouvir o conjunto, não o coordenador sozinho nem o padre e sim o grupo que planejou e executou. A avaliação deve ser realista, confrontada com os objetivos.
O que se avalia? As conquistas, a eficiência, a qualidade, os resultados, as relações interpessoais. “Avaliação não é fecho de ouro” para encerrar nada. Feita a avaliação, é preciso que ela tenha conseqüências: se algo está errado, se há deficiências, alguma ação nova há de acontecer para sanar o problema.
Rever é tomar consciência hoje do que fizemos ontem para melhorar o agir de amanhã. É apresentar novos questionamentos, ajudar a tomar decisões, determinar o grau de eficácia e de eficiência de algo realizado.
Rever não é relacionar dados sem interpretação, valorizar fatos isolados e individuais, qualificar dados sem relacionar com outros mais importantes, analisar os resultados sem levar a novos compromissos.

PLANEJAMENTO


Planejamento é um processo de tomar decisões a respeito de um trabalho a ser feito.
Plano é o registro por escrito das decisões e pode ser modificado se precisar ser corrigidas decisões tomadas anteriormente.
Cronograma é uma listagem de ações a serem executadas com datas, prazos, agentes e destinatários.
Fica claro que não se pode apresentar o cronograma e dizer que está feito o planejamento. E planejamento também não se resume em fazer o plano. Ele envolve muita reflexão antes de se fazer o plano; ele continua refletindo sobre as ações à medida que elas são executadas e avalia constantemente o que está sendo feito. Ele é um processo que não tem fim.

Não se faz planejamento: só para ter um plano bonito; para constar do arquivo; para ter o que cobrar; para obrigar todos a trabalhar do mesmo jeito; para ficar proibido de criar coisas novas.

Faz-se planejamento: para trabalhar melhor; para não perder de vista os objetivos; para confrontar tudo que acontece com o objetivo a alcançar; para aproveitar melhor os recursos disponíveis; para evitar esforços inúteis ou duplicados; para entender com mais clareza o próprio trabalho; e principalmente, para nos tornarmos cada dia mais competente.

Refletir: Temos planejamento mesmo, ou só calendário de eventos? Que dificuldades encontramos para entrar num processo de planejamento?

No planejamento, a participação é um fator muito importante. Planejamento participativo sugere participação do grupo. O grupo planeja junto e dentro daquilo que é capaz de compreender, perceber e executar. Participação verdadeira dá muito trabalho, tanto para quem coordena como para o grupo inteiro. A participação real, efetiva, de todos, é muito importante por vários motivos:

- é necessidade humana e direito de todos;         - vale por si mesma, e não pelos resultados;
- desenvolve a consciência crítica;                      - promove a partilha do poder;
- participação se aprende participando.

Se todos esses argumentos não fossem suficientes, haveria ainda uma razão fundamental para não se abrir mão de um processo participativo, por mais trabalhoso que ele pareça ser: Quem não é capaz de participar do planejamento também não é capaz de executar o que foi planejado.
Planejamento participativo é um processo educativo. Temos apenas duas opções: ou gastamos tempo nos educando, crescendo, ou fazemos tudo rapidinho e ninguém aprende nada.

Programação: é hora de pensar na programação. Mas a programação tem que ser o jeito de correr atrás do objetivo, levando em conta os dados concretos da realidade. Para cada trabalho se define:

Roteiro para definir de maneira mais objetiva e clara o que se pretende:

Projeto à Nome do projeto
Objetivo à Objetivo geral e específico definido pela equipe
O que?  à Ação que se pretende à Idéia
Por que?  à Motivos à Justificativas
Para que? à Objetivos à Obj geral e específico
Quem? à Responsáveis à Autor e coordenador
Com quem? à Recursos Humanos à Equipe
Para quem? à Destinatários à Público alvo
Como? à Estratégias, metodologia à Meios/modo de realizar
Quando? à Data à Cronograma
Onde? à Local à Espaços
Quantoà Recursos materiais, financeiros à Custos
Também é preciso uma visão de conjunto das atividades de toda a comunidade, para evitar coincidência de eventos e acúmulos de tarefas para as mesmas pessoas.

Outra questão a ser resolvida na programação é a distribuição das tarefas e responsabilidades entre os membros. É necessário dar a cada um, autoridade correspondente à tarefa de que foi encarregado e pela qual será realmente responsável. É indispensável que isso seja feito com muita clareza, para que cada um saiba direitinho o que dele se espera. Trabalho que não tem dono acaba não sendo feito.

Um texto cômico ilustra bem essa idéia: Era uma vez, quatro pessoas simpáticas que se chamavam: TODOMUNDO, ALGUÉM, NINGUÉM e QUALQUER UM. Havia um trabalho que TODOMUNDO achava que era importante. NINGUÉM se ofereceu como voluntário na reunião, mas TODOMUNDO achou que QUALQUERUM ia dar conta do serviço. Depois, ALGUÉM reclamou porque NINGUÉM fez o que QUALQUERUM poderia ter feito. TODOMUNDO culpou ALGUÉM e a equipe ficou desanimada. Descobriram então que da próxima vez era melhor determinar ALGUÉM para cada tarefa porque TODOMUNDO percebeu que NINGUÉM acabava fazendo o trabalho que ficava para QUALQUERUM.

Conclusão: esse tal de planejamento participativo dá uma mão-de-obra! Mas como em quase todas as outras situações da vida, vale aquele ditado popular que ensina: O barato sai caro! Ou seja, fazer tudo pelo “facilitário”, sem investir na qualidade pode ser mais fácil em curto prazo, mas acaba gerando problemas crônicos que, no fim, acabam sendo pior. O mais difícil no planejamento participativo, é convencer as pessoas de que não compensa fazer abatimento na qualidade do trabalho e que é preciso parar de brincar de faz-de-conta numa atividade tão importante. É um processo de conversão: conversão para o respeito ao outro e para a verdade nas relações humanas e na qualidade do trabalho. Sempre vai haver quem prefira não mudar nada e continuar carregando ano após ano as mesmas queixas sobre o que não dá certo (de preferência, jogando a culpa nos outros). Mas confiamos na multidão que quer acertar e a estes tentamos prestar um pequeno serviço, oferecendo à sua reflexão este texto.

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