O “não” tem um papel fundamental no despertar do autoconhecimento. Dizer “não” é libertador e representa uma verdade íntima. A recusa, diferente do que muitos acreditam, não está relacionada ao individualismo ou egoísmo – é a simples expressão de um sentimento. Reflita a respeito da forma como ele é dito, afinal, dizer “não” com gentileza e educação é muito mais bacana.
Ser solícito e disposto a ajudar são qualidades socialmente bem vistas. O problema é que, muitas vezes, a boa vontade sobrepõe as limitações e prioridades de quem está ajudando. A dificuldade de dizer não é mais comum em pessoas menos assertivas, que têm dificuldade em manter atitudes firmes. “Baixa assertividade pode levar a depressão, frustração e baixa auto-estima”, diz Eliane Falcone, professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Ela se sente vítima dos outros. Quem se priva das suas necessidades básicas afetivas fica ressentido e magoado com facilidade”, afirma Eliane.
A dificuldade de dizer não é maior para as mulheres. O papel feminino ainda carrega um padrão de comportamento mais comedido, de maior resignação e tolerância, com menos expressões de auto-afirmação. “Dados clínicos sugerem que os homens tendem a ser mais assertivos que as mulheres”, diz Eliane. Se no passado, a pressão vinha da família e da sociedade, agora a inimiga é interior. “É uma guerra que, no pós-feminismo, é interna”, acredita Mariliz. “Ainda existe muita cobrança por uma mulher perfeita, forte mas ao mesmo tempo dócil. É esperado que a mulher seja obediente, civilizada”, afirma. O “não” pode ser uma ferramenta para a mulher desfrutar da sua liberdade.
Dizer não pode levar a uma situação desconfortável ou de confrontamento, seja para recusar uma panfleto na rua, uma sobremesa quando você está de dieta ou para ser fiador de alguém. O importante é achar o tom adequado e não titubear. “Se você achar que essa é a resposta, não tem que se sentir mal por isso. É só não ser grosseiro, não precisa ter sentimento de culpa”, diz Ligia Marques, consultora em etiqueta e marketing pessoal e autora do livro “Sem noção” (editora Matrix), em que ela dá dicas para sair das saias-justas do dia a dia. Confira conselhos de especialistas para usar o “não” a seu favor:
1. Avalie se o pedido, tarefa ou favor irá prejudicar você e se a contrapartida vai trazer benefícios que valham a pena;
2. Treine em situações mais fáceis, como recusar uma roupa que uma vendedora insiste em oferecer ou não permitir que alguém com pressa fure a fila do supermercado;
3. Busque uma maneira positiva de dar o recado. Em vez de dizer “Não posso emprestar dinheiro agora”, diga “Acabei de assumir um financiamento e no momento estou comprometido com isso”;
4. Ofereça alternativas. Se não quer ajudar a organizar um bazar beneficente para sua amiga, se ofereça para colaborar comprando uma peça;
5. Peça tempo. Dizer “no momento preciso pensar um pouco” dá oportunidade de avaliar com mais calma se quer se responsabilizar pela tarefa;
6. Se não conseguir dizer “não” pessoalmente, telefone ou mande um e-mail, recusando com delicadeza o pedido;
7. Não sinta culpa por dizer não. “Dizer não, se necessário, é assumir que não somos perfeitos”.
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