sábado, 27 de dezembro de 2008

Vitamina S


Depois de décadas de reinado da busca pela limpeza total, especialistas descobrem o que nossos avós sempre souberam: um pouquinho de sujeira não faz mal a ninguém. Pelo contrário!

Ah, as maravilhas da vida moderna: produtos que matam todos os germes, esterilizadores de ar, antibióticos, pisos que ficam limpos muito mais tempo... Com tantas "armas" para combater todo e qualquer tipo de sujeira, crianças que vivem em locais desenvolvidos crescem cada vez mais com sistemas imunológicos "preguiçosos" e mais suscetíveis a alergias e a infecções respiratórias. Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, o número de casos de alergia vem crescendo assustadoramente nos últimos 30 anos. E quanto maior a obsessão do país com limpeza, maior o número de alérgicos.

Nos últimos anos, muitos estudos foram feitos sobre o assunto e vários outros ainda estão em andamento. As descobertas levam a uma conclusão: crianças que entram em contato com certos tipos de bactéria ainda na primeira infância desenvolvem anticorpos que as ajudarão a combater vários tipos de alergia durante o resto da vida. Num estudo publicado no Journal of The American Medical Association, 474 bebês foram acompanhados do nascimento até os 7 anos de idade. Os que cresceram sem cães apresentaram o dobro da incidência de alergias do que os que haviam convivido com um cachorro. Num outro estudo, pesquisadores europeus coletaram amostras de pó da cama de 800 crianças que moram em fazendas; as que dormiam em camas com maiores quantidades de pó e micróbios apresentaram 50% menos chances de desenvolver asma - uma das alergias mais comuns, junto com a rinite e o eczema.

Como funciona o sistema imunológico
O sistema imunológico, ou seja, o conjunto de estruturas e funções que defende o corpo de agressões externas, começa a se formar já na gestação. "Os anticorpos da mãe são passados para o feto através da placenta, enquanto a glândula timo recebe as informações genéticas que vão ajudar na formação do sistema", explica o pediatra e alergologista Pedro Paulo Sposito, pai de Fernanda e Alexandre. Após o nascimento, a grande fonte de anticorpos passa a ser o leite materno. Por fim, vêm as vacinas. "Ao completar 1 ano de vida, o bebê já está imunologicamente competente", diz Sposito.

"Quando o Muro de Berlim foi abaixo, percebeu-se que as crianças da Alemanha Ocidental, mais rica e desenvolvida, tinham mais alergia que as da Alemanha Oriental", conta a dra. Ana Paula Castro, mãe de Mariana e Lucas, pediatra alergista e imunologista. Ela esteve no Congresso Europeu de Alergia e Imunologia, realizado em junho na França, que teve a "sujeira" como um dos principais temas. "Algumas bactérias produzem endotoxinas, estruturas que estimulam nosso sistema imunológico, gerando uma resposta imunológica que depois ajudará na proteção contra infecções e alergias", explica. "As bactérias do sarampo e da tuberculose produzem endotoxinas, mas causam doenças indesejáveis. Já as bactérias que encontramos na terra e na saliva dos animais também produzem a substância, mas sem colocar o paciente em risco", completa. Ou seja: brincar na terra ou ter um bichinho de estimação, ainda nos primeiros anos de vida, é uma verdadeira vacina.

É por isso que as crianças que moram no campo apresentam uma defesa imunológica mais eficiente. "Desde cedo, o organismo delas entra em contato com as bactérias comuns do ambiente e aprende a se defender. Na hora de se defender das bactérias mais prejudiciais, o corpo está mais eficiente", explica a dra. Elza do Carmo Cabral, filha de Maria do Carmo, especialista em alergologia e imunologia da Clínica da Alergia. "Muitas mães, principalmente com o primeiro filho, têm verdadeira obsessão por limpeza. Já foi provado que crianças primogênitas desenvolvem mais alergias e infecções respiratórias. O segundo filho costuma ser mais resistente, porque a mãe tem menos tempo e está um pouco menos preocupada", compara. Outro dado interessante apontado pela dra. Elza, que também esteve no congresso deste ano: crianças criadas em ambientes muito limpos possuem mais bactérias patogênicas (que causam doenças) no intestino. "Os próprios produtos químicos usados para deixar tudo extremamente limpo provocam muita alergia e irritação no aparelho respiratório. Isso é poluição química dentro de casa."

"Do ponto de vista imunológico, é bom ter contato com sujeira. Mas se a criança já é alérgica, a sujeira pode precipitar uma crise", alerta o dr. Samuel Koperstych, pai de Vanessa, alergologista e imunologista. "A hereditariedade é muito determinante na alergia. Muitas crianças já nascem alérgicas, e expô-las à terra e a animais pode causar uma resposta negativa."
O importante, como sempre, é o bom senso. Deixe seu filho brincar, se sujar, curtir a dele. Depois, banho, cama, tudo limpinho. Ok. Mas hora de brincar é hora de brincar, e nossos avós sempre souberam disso. Afinal, de onde veio a expressão "vitamina S"? Então!

A DOSE CERTA DE SUJEIRA
Menos neurose e mais bom senso. Essa é a receita para que seu filho cresça sadio e protegido "O ato de lavar é a primeira vacina preventiva contra qualquer infecção", ensina dr. Sposito. Depois de brincar na terra e mexer com animais, as crianças devem lavar as mãos. Não basta ensinar - é preciso dar o exemplo. Filhos de pais alérgicos são potenciais vítimas das alergias e infecções.

Nesses casos, o uso de leites enriquecidos com probióticos - que nada mais são do que bactérias mortas - associados ao aleitamento materno pode proporcionar maior proteção à criança. Esse complemento deve ser feito sob a orientação de um especialista. Não há problema em deixar seu filho brincar no jardim de casa ou do prédio, mas informe-se sobre o uso de produtos químicos (inseticidas e fertilizantes) nesses locais. Quando houver aplicação desses produtos, fique longe do jardim por alguns dias.

permitido andar descalço e brincar no chão de casa, da escola, da praia ou do parquinho (desde que seja bem conservado). Cuidado com áreas de areia em parques e praças, que costumam servir de banheiro para os cachorros. Não é preciso esterilizar a chupeta cada vez que ela cai no chão de casa, que costuma ser mantido limpo. Lavar com água corrente já é suficiente. Deixe seu filho brincar com outras crianças. Bebês que ficam em berçário, principalmente no período da tarde (quando o ambiente já está "sujo" com as bactérias das crianças da manhã) têm menos infecções respiratórias.

AGRADECIMENTO: Maê Amaral, 6 anos, filha de Pipo, que adora tomar grandes doses de "vitamina S", como na foto.

LIBERDADE
"A liberdade não é a ausência de normas, mas a aceitação autônoma, livre, do que se deve fazer. Os pais de hoje têm de superar duas tentações que não ajudam a transmitir a idéia de liberdade. Em primeiro lugar, têm de evitar que a ânsia de proteger os filhos, limite indevidamente a capacidade destes de aprender a tomar decisões e de fazer as coisas por sua conta. A outra tentação de nosso tempo é confundir a liberdade com o vale-tudo".

Fonte: google.

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