E
não para por aí. O ano de nascimento de Jesus, que marca o
início da contagem do nosso calendário - afinal, estamos a caminho do ano 2013
"depois de Cristo" - provavelmente está errado. "Os
evangelhos não fornecem datas precisas, apenas indícios. E muitas variáveis
devem ser consideradas, como a diferença de calendários adotados por judeus e
romanos à época", afirma o historiador Júlio Cesar Chaves, mestre em
Ciências da Religião e pesquisador do cristianismo primitivo. "Tanto Lucas
quanto Mateus relatam que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, o que
provavelmente situaria o nascimento entre os anos 6 e 4 a.C. (antes de
Cristo)", diz.
Segundo
a tradição cristã, Maria teria dado à luz em Belém. Mas o local também é
contestado por alguns estudiosos, como o teólogo americano John Dominic Crossan
e o arqueólogo israelense Aviram Oshri. Belém, que fica na Judeia, é citada nos
evangelhos de Lucas e Mateus, mas os especialistas dizem haver
indicações de que ele teria nascido na Galileia, onde começou a
pregar. O fato de ambos evangelhos situarem o nascimento em Belém é visto como
uma tentativa de associar Jesus à profecia de Miqueias, segundo quem o messias
esperado pelos judeus nasceria naquela cidade.
Se
nem data e local de nascimento estão livres de controvérsia, tampouco as imagens reproduzidas nos presépios mundo afora,
com o menino na manjedoura recebendo a visita dos três reis magos, são
encaradas por estudiosos como realidade. "As narrativas sobre o
nascimento foram feitas três ou quatro gerações depois, quando as informações
históricas e os testemunhos diretos já estavam perdidos", diz André
Chevitarese, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), um dos autores do livro "Jesus Histórico. Uma
Brevíssima Introdução", da Klíne Editora. "O relato tem uma discussão
de poder, de reis importantes vindo de longe prestar homenagem",
completa.
Sem
detalhes claros sobre o nascimento de Cristo, há quem duvide de sua existência.
Na opinião dos especialistas, entretanto, essas correntes apresentam mais
motivações ideológicas do que históricas, uma vez que há,
sim, provas da existência da Jesus. "Ele é tão histórico quanto
o imperador Tibério, ou a maioria dos imperadores romanos. Se você vai colocar
Jesus como ficção, tem que colocar boa parte da história antiga na linha da
ficção. Do que não se tem provas científicas é de que ele seja o salvador. Aí
entra a questão da fé", afirma Costa.
"A
quantidade de fontes antigas de períodos praticamente contemporâneos a Jesus
que o mencionam é considerável - inclusive em obras não cristãs. Não faria
sentido pensar que uma quantidade tão grande de fontes compostas quase ao mesmo
tempo e por autores diferentes fizesse referência a uma pessoa que nunca
existiu, ou que fosse fruto de uma invenção", diz Chaves. Segundo ele, a
ideia segundo a qual Jesus seria uma invenção mítica surgiu por volta do século
18, e nenhum estudioso sério defende tal tese. "A quantidade de fontes
antigas que mencionam Júlio César, por exemplo, é muito menor do que as que
mencionam Jesus. No entanto, nunca vi ninguém questionar a existência do
primeiro", completa.
Estudar
a vida de Cristo é um tema polêmico pois envolve não só ciência, mas fé.
Para Chevitarese, jamais existirá um retrato único dele. "É como um
caleidoscópio. Existem inúmeros retratos de Jesus: no evangelho de João, Jesus
é Deus; para Paulo, ele é o messias, mas não Deus. No fundo, Jesus é uma
percepção de cada comunidade", conclui.
Fonte: site UOL
Fonte: site UOL
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